Institucional

Um ano para mudar a história

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Na oftalmologia, 20/20 caracteriza a acuidade visual normal – significa que a pessoa com essa “classificação” consegue ver detalhes a uma distância de 20 pés (ou 6 metros). Mas por que esta observação em uma revista sobre imunizações? Porque é possível traçar alguns paralelos interessantes com o ano de 2020 que, já em seus primeiros meses, entrou para a história como “aquele que fez o mundo parar e mudar”.

O surgimento do SARS-CoV-2 nos impôs uma realidade só comparável, em alguns termos, à da pandemia de gripe espanhola em 1918. Contudo, os 102 anos que separam aquele episódio do atual nos mostram que a sociedade não estava preparada para um novo evento do gênero.

Vejamos: se não é possível saber o grau de infecciosidade e de letalidade de um vírus que sequer existe, é factível prever o surgimento da ameaça a partir de estudos sobre o comportamento de microrganismos já conhecidos, e da análise de questões socioambientais, como a ampliação da pobreza, a dificuldade de acesso ao sistema de saúde e a degradação do meio ambiente, por exemplo.

A ciência, com sua visão 20/20, aguçada a partir do conhecimento acumulado e de estudos que analisam riscos atuais e futuros, já previa o surgimento de um novo vírus com possíveis impactos em todo o mundo. Nos últimos anos tivemos vários avisos: a pandemia de influenza em 2009, de ebola em 2013, de chikungunya e zika em 2014/15. Até mesmo o conhecido coronavírus, que assolou a China no início dos anos 2000, com o SARS CoV-1, causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), e em 2012 com o Mers-CoV, responsável pela Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). Estes foram alguns dos vários sinais que pontuaram a necessidade de intervenções para enfrentar um evento de grande escala como se tornou a pandemia de COVID-19.

Entretanto, a sociedade estava míope e assim “avançava”, com o conhecimento disponível embaçado por enorme apatia; com políticas estruturadas pelas lentes da “superioridade”, tendo como objetivo o avanço sobre fronteiras geográficas e culturais preestabelecidas. Tudo muito bem amparado em um modelo econômico de exploração contínua dos meios naturais e dos recursos humanos, bem como de negação da ciência.

Esse contexto fez da COVID-19 um imenso desafio sob qualquer ótica, para qualquer país. A pandemia é e continuará sendo, por longo tempo, motivo de tristeza pelas vidas abaladas e perdidas. Mas também uma grande oportunidade de aprendizado, de reinvenção dos modelos de interação social e política, de resgate do valor do conhecimento científico, de ressignificação do sentido da vida, com a ampliação do olhar para além dos nossos próprios umbigos.

Que essa experiência nos imunize do vírus da indiferença. Cuidem-se bem!

Em outubro estaremos juntos na XXI Jornada Nacional de Imunizações para celebrarmos a vida e compartilharmos conhecimentos para um mundo melhor.

Abraço!

Juarez Cunha
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)