Institucional

Ensinamentos da pandemia e desafios em 2022

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O ano de 2021 termina confirmando a competência do Brasil em vacinar – desde que as equipes de saúde disponham de imunobiológicos, obviamente. Dados de monitoramento do site Our World in Data, do dia 16 de dezembro, mostravam que mais de 140 milhões de pessoas haviam tomado a segunda dose ou dose única de vacinas COVID-19 (65,9% da população). Somadas as doses um e dois, a dose única e a de reforço, são 322 milhões de aplicações desde o dia 19 de janeiro, data do início da vacinação – mais de 26 milhões de doses aplicadas por mês.

Em que estágio estaríamos se a campanha tivesse começado assim que as primeiras vacinas COVID-19 receberam aprovação de uso emergencial? Sem dúvida em outro patamar, com milhares de vidas poupadas. O fato é que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) possui uma das maiores experiências do mundo em campanhas de vacinação, mas enfrenta limitações frente a uma gestão de saúde pública pouco envolvida com... a saúde pública!

A linha ascendente de cobertura vacinal contra a COVID-19, contudo, não é suficiente para nos livrar da pande mia e das restrições que ela nos impõe. Apesar dos esforços de diversas lideranças políticas para pensarmos o contrário, ainda não devemos renunciar aos cuidados não farmacológicos. A tríade máscara/higiene das mãos/não aglomeração deve continuar como companheira no enfrentamento da maior emergência em saúde pública dos últimos cem anos. Temos que avançar na retomada de uma normalidade possível e segura, o que não deve acontecer a qualquer preço – o contínuo surgimento de variantes do vírus SARS-CoV-2 é um dos principais alertas quanto a isso.

Tal cenário reforça outro conhecimento que também já detínhamos: o papel essencial da educação em saúde, do empenho na divulgação e popularização da ciência e a necessidade vital de aumentarmos nossa atenção, nosso cuidado com as nossas escolhas e atitudes. O ano de 2022 nos traz boas oportunidades de avanço, mas para isso temos de estar atentos aos ensinamentos da ciência e da vida em toda a sua dimensão.

Na contramão das vacinas COVID-19, seguimos perdendo o “jogo” no que diz respeito às coberturas para as vacinas de rotina, o que nos traz outro ensinamento: somos seres guiados pelo medo; tememos o risco iminente, mas tendemos a não temer o que não vemos no cotidiano. Qual foi o caminho que contribuiu para pavimentar esse comportamento de negligência com o “risco invisível”? Os anos em que a política de saúde pública arrefeceu os esforços de se comunicar com a população de forma assertiva. Esta não é a única, mas sem dúvida é a principal contribuição ? enquanto país, ficamos deitados em berço esplêndido, à sombra das conquistas alcançadas. O alerta da OMS de que o Brasil é considerado um dos países de risco para retorno da poliomielite, na esteira do que ocorreu com o sarampo, é certamente o exemplo mais emblemático dessa preocupante situação.

Por tudo isso, os desafios em 2022 estão longe de serem pequenos, pois não haverá retomada possível com coberturas vacinais tão baixas. Portanto, não podemos esperar que a poliomielite acometa uma de nossas crianças para que as filas se formem junto às Unidades Básicas de Saúde em todo o país. Como sociedade científica a SBIm tem se empenhado em alertar sobre essa situação, mas somente com o esforço e colabo ração de todos – sociedade civil, organizações científicas, profissionais da saúde e governos – conseguiremos restabelecer a segurança necessária contra as doenças infecciosas imunopreveníveis, da COVID-19 à caxumba.

Que possamos seguir juntos e fortalecidos!

Um Abraço!

Juarez Cunha
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)