Institucional

Lições que ainda são dever de casa

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O quanto o combate às doenças infecciosas imunopreveníveis tem nos ensinado ao longo de quase 50 anos de existência do Programa Nacional de Imunizações (PNI)? Se por um lado temos a certeza de que aprendemos muito e que são valiosos os avanços, por outro parece que não conseguimos nos libertar de algumas “lições de casa” que nos remetem aos primórdios das imunizações como política de saúde pública.

Vejamos. Em pleno 2022 estamos às voltas com o risco de enfrentarmos casos de poliomielite, rubéola e de síndrome da rubéola congênita, por exemplo. Isso sem falar nos surtos de sarampo que retornaram em 2018, levando à revogação do certificado de eliminação da doença conquistado dois anos antes pelo Brasil e demais países das Américas. A raiz de toda essa situação é uma só: as baixas coberturas vacinais. Mas de que forma um país como o nosso, que já foi modelo para o mundo no quesito vacinação, pode chegar a esse estado de risco?

Esta pergunta só é respondida a partir da análise de diversos fatores, dentre os quais podemos elencar como principais: a falta de campanhas efetivas de comunicação sobre a importância da vacinação, a despeito do controle de boa parte das doenças imunopreveníveis; o descuido com a recomendação e prescrição médica; e a dificuldade de integração de toda a rede de assistência que começa no Ministério da Saúde, passa pelos estados e chega às salas de vacinação por meio dos municípios, promovendo perdas de oportunidade de vacinar e até levantando dúvidas. A estes fatos soma-se o esforço descomunal da principal autoridade pública do país em desacreditar a ciência, as imunizações e os profissionais que as defendem.

É imprescindível destacar que é neste mesmo cenário que conseguimos vacinar, até o fim de abril, mais de 163 milhões de brasileiros com a segunda dose ou dose única das vacinas que protegem da covid-19. Sem falar nos milhões de imunizados com a terceira ou quarta dose e nas crianças a partir de 5 anos, vacinadas com o esquema primário para esta faixa etária. Estes são números que evidenciam a predisposição das pessoas em escolher a prevenção quando se veem diante de situação de risco iminente, e, portanto, o quanto são necessárias as campanhas de comunicação governamentais que eticamente comuniquem os riscos das doenças e a importância da imunização. Uma ação que deve ser contínua e não pontual.

Ainda sobre a covid-19, a queda no número de novos casos, de internações e óbitos tem possibilitado a flexibilização de medidas não farmacológicas. É evidente que ansiamos por mais liberdade no agir, que estamos esgotados devido às restrições impostas pela pandemia, e que o país se encontra em um momento que permite rever os cuidados preconizados até aqui. Mas se não investirmos em uma comunicação eficiente sobre riscos e responsabilidades individuais e coletivas estaremos mais uma vez virando as costas para as lições dadas e teremos que permanecer refazendo os antigos deveres de casa, sempre correndo atrás dos prejuízos.

Juarez Cunha
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)