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Cerca de 1.200 pessoas participam da XXI Jornada Nacional de Imunizações

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Mais uma vez, sucesso de público. Cerca de 1.200 pessoas participam, em Fortaleza, entre 4 e 7 de setembro, da XXI Jornada Nacional de Imunizações, principal evento sobre o segmento científico no mundo. Na programação do encontro estão aproximadamente 150 atividades, incluindo palestras, oficinas e dinâmicas interativas, conduzidas por mais de 100 palestrantes brasileiros e do exterior.

O tema desta edição, “Promovendo o valor das Imunizações”, norteou o discurso de abertura proferido pelo presidente da SBIm, Juarez Cunha. O médico convidou a plateia a refletir sobre os diferentes sentidos da palavra valor — importância, utilidade, valia, legitimidade, qualidade, validade e preço — e como eles se inserem no cotidiano dos profissionais da saúde e da população em geral.

“Como podemos classificar a importância das vacinas? Qualquer um nessa sala tem ao menos quatro respostas para essa pergunta: elas previnem infecções que podem levar ao adoecimento e à morte, contribuem para a melhor qualidade e expectativa de vida, evitam custos financeiros e sociais, bem como o sofrimento de todos os envolvidos com as enfermidades: o doente, os familiares e os amigos”, resumiu.

Juarez Cunha, presidente da SBIm.

O preço — neste caso relacionado ao prejuízo da não vacinação — foi o termo usado para comentar o recrudescimento do sarampo no país. De acordo com o último boletim publicado pelo Ministério da Saúde antes da cerimônia, de 9 de junho a 31 de agosto houve 2.753 casos confirmados da doença em 11 unidades da federação, 98% em São Paulo. Em 2018, foram 10.326 casos confirmados, dos quais 9.803 no Amazonas. Na Europa, o mesmo problema: segundo o European Center for Disease Prevention and Control (ECDC), ocorreram mais de 85 mil casos em 2018.

Em todos os cenários, a culpa é das baixas coberturas, fenômeno relacionado, entre outros fatores, ao relaxamento com a diminuição e o desaparecimento de doenças ou à hesitação em se vacinar — motivada por boatos que contestam a seguranças das vacinas, disseminados principalmente via redes sociais. Nesse sentido, Cunha alertou que, além de entes públicos e sociedades científicas, os médicos têm o dever de contribuir. Diversas pesquisas demonstram que a orientação adequada favorece a adesão e melhora a percepção sobre as vacinas.

“É evidente que promover o valor das imunizações deve ser um compromisso de todo profissional da saúde, exercido no dia a dia, seja em consultórios, hospitais, clínicas ou mesmo entre familiares e amigos. A ‘falta de tempo’ não pode ser argumento para deixar de lado a recomendação e, no caso de médicos, a prescrição — independentemente da especialidade. Vacinação é prevenção primária”, enfatizou.

Por vocês

A presidente da Jornada e representante da SBIm no Ceará, Jocileide Sales Campos, seguiu na mesma linha e falou que promover o valor das imunizações é promover as pessoas, uma vez que as vacinas são indiscutivelmente uma medida de excelência de proteção contra doenças que podem causar sequelas e ceifar vidas. A pediatra também desejou a todos um bom evento, aproveitando para afirmar que estava extremamente satisfeita com o fato de Fortaleza voltar a sediá-lo.

“Os participantes podem estar jubilosos porque a programação está completa de ciência, lazer e atualização. Curtam, explorem e aproveitem: das apresentações à Clínica-Modelo, dos encontros nas salas às atividades sociais. Podem ter certeza de que tudo foi temperado com o melhor tempero, o amor. De todo o meu coração, muito obrigado”, agradeceu.

Com o microfone, Jocileide Sales Campos, presidente da Jornada e representante da SBIm no Ceará. Ao lado: Juarez Cunha, presidente da SBIm; Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm; e Renato Kfouri, primeiro secretário da SBIm e diretor do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Isabella Ballalai, presidente da Comissão Científica do encontro e vice-presidente da SBIm, acrescentou que sempre se sensibiliza ao participar das aberturas das Jornadas, pois são oportunidades de testemunhar o quanto a Sociedade já conquistou, sem esquecer de que ainda há muitos desafios por vir. Da mesma forma que Juarez Cunha, ela bateu na tecla da importância do profissional da saúde para o êxito das imunizações.

“Fazer a população valorizar as imunizações passa obrigatoriamente pela nossa capacitação. Devemos acabar com o medo. Para tanto, é necessário ter conhecimento e convicção. O paciente não pode ter dúvidas: recomendamos porque entendemos do assunto. E isso, é claro, com empatia. Eles precisam saber que estamos preocupados com eles”, aconselhou.

Reconhecimento

A coordenadora substituta do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato, disse se sentir privilegiada por representar o órgão na Jornada e destacou a cooperação entre o Ministério da Saúde e a SBIm. “Sempre contamos com a parceria da Sociedade, que contribui – e muito – para a realização das nossas ações pelo país”, declarou. Fantinato fez ainda um apelo:

“O PNI está prestes a completar 46 anos de uma história reconhecida nacional e internacionalmente. Ainda assim, há questões a serem enfrentadas. Conclamo vocês a se engajarem na luta para voltarmos a controlar o sarampo. Essa meta só será alcançada se entendermos que se trata de um desafio de todos. É o momento de juntarmos esforços”.

Francieli Fantinato, coordenadora substituta do Programa Nacional de Imunizações (PNI), discursa entre Alexandre Cavalcanti, Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG/Regional CE, e Jocileide Sales Campos.

Em vídeo, o médico Dráuzio Varella, que já havia colaborado com a campanha da SBIm “Vacina é Proteção Para Todos” (familia.sbim.org.br), parabenizou a Sociedade pelo evento e pelo trabalho desenvolvido, especialmente no que diz respeito às oportunidades de atualização. Como exemplo de iniciativa nesse sentido, ele citou o Sala de Vacinação (https://saladevacinacao.com.br/), curso online desenvolvido pela SBIm e pelo PNI, que já treinou mais de 100 mil pessoas em todo o país.

Dráuzio traçou, ainda, um panorama do momento atual, listou os obstáculos a serem superados para as coberturas vacinais voltarem aos patamares desejados e congratulou os profissionais da saúde que atuam com imunizações. “Vocês são a razão do sucesso do PNI”, elogiou.

Mesa de abertura: Alexandre Cavalcanti, Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG/Regional CE, representando o presidente da SBGG, Carlos Uehara; Francieli Fantinato, coordenadora substituta do Programa Nacional de Imunizações (PNI); Jocileide Sales Campos, presidente da Jornada e representante da SBIm no Ceará; Juarez Cunha, presidente da SBIm; Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm; Renato Kfouri, primeiro secretário da SBIm e diretor do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), representando a presidente Luciana Rodrigues Silva; e Judith Marinho de Arruda, presidente da Diretoria Regional Ceará da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), representando Flávio Sano, Presidente da ASBAI.

Homenagens

O momento de maior emoção da noite foi a homenagem ao pediatra e pesquisador Reinaldo de Menezes Martins, falecido em janeiro de 2019. Referência em imunização, em especial por seu trabalho com a vacina febre amarela, Martins foi o responsável, entre outros feitos, pela criação, na Fundação Oswaldo Cruz, em Bio-Manguinhos, de um grupo de pesquisa responsável por algumas das mais importantes publicações brasileiras na área de vacinas, tanto em revistas nacionais como internacionais.

Vice-presidente da SBIm – Regional RJ e presidente do Comitê de Infectologia da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), Tânia Petraglia – que dias antes entregara uma placa da SBIm à Família do médico – declarou, com voz embargada, que sua tarefa mais difícil no evento era homenagear alguém “talentoso, bondoso e uma infinidade de adjetivos que em cinco minutos não conseguiria elencar”. “Ele veio das bases e construiu um conhecimento sólido, quebrando paradigmas. Gerações de pediatras, eu inclusa, são devedoras a ele”, resumiu.

A Jornada também lembrou a trajetória de Rodolfo Teófilo (1853-1932). O farmacêutico e escritor, cujos pais foram vítimas de uma epidemia de cólera, teve papel fundamental no controle da varíola no Ceará. A doença, uma das mais devastadoras da história da humanidade, foi responsável por episódios lamentáveis na então província, como o fatídico Dia dos Mil Mortos (28/11/1968), no qual mais de mil cadáveres de vítimas da enfermidade foram sepultados em Fortaleza.

Em 1901, por conta própria, comprou dois bezerros e o equipamento necessário para a produção da vacina. Sem conseguir atrair a população como gostaria, passou a percorrer as regiões periféricas da cidade para convencer pessoas a se vacinarem. A abordagem de Teófilo era ousada e criativa. Além de explicações sobre a segurança e eficácia, ele criou a figura de “São Jenner” – referência a Edward Jenner, inventor da vacina da varíola -, que teria recebido de um anjo a indicação de um bezerro que produziria um líquido que, quando inoculado, preveniria a enfermidade.

“Sinto-me extremamente honrado de homenagear esse herói cearense, infelizmente pouco conhecido no estado e menos ainda em todo o país”, comentou Robério Dias Leite, professor adjunto de pediatria da Universidade Federal do Ceará (UFC), responsável pela apresentação e membro das comissões Científica e de Temas Livres da Jornada.

Estratégia que mudou a saúde pública no Brasil

“As vacinas são o maior presente que a ciência já ofereceu para a humanidade”. Com essas palavras e com o apoio de estimativas que indicam que, nos últimos dois séculos, as vacinas aumentaram a expectativa de vida mundial em 30 anos, o ex-vice-presidente e membro da atual diretoria da SBIm, Guido Levi, iniciou a palestra magna do evento, dedicada às conquistas obtidas pelo Brasil graças à vacinação. Exemplos são a erradicação da varíola e a eliminação da poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita, o tétano materno e neonatal, sarampo – mesmo que o status tenha sido perdido – e o controle de diversas outras enfermidades.

“A varíola competia com a febre amarela para ver qual era a doença que mais matava a população brasileira no fim do século XIX. Quando estudei, no começo da década de 1960, havia pavilhões de varíola, com mortalidade elevadíssima. Para nós, era algo cotidiano”, contou o médico, que também lembrou a pólio:

“Há 50 anos, praticamente todos conheciam alguém que tinha a enfermidade, ou na família ou entre amigos. A imagem de crianças que andavam na rua com aparelhos mecânicos para reduzir minimamente a dificuldade de locomoção causada por sequelas era muito frequente”.

Diante das baixas coberturas vacinais, Levi reforçou a necessidade de união dos profissionais da saúde. “As imunizações são um campo que não permite retrocesso. Temos obrigação fundamental de divulgar informação para a população. De uma maneira didática, com linguagem simples e compreensível, para mostrar que não podemos voltar ao tempo em que essas doenças eram fantasmas”, concluiu.