A pandemia de Covid-19 desencadeou uma corrida da ciência mundial por vacinas seguras e eficazes contra a doença, capitaneada por vultosos investimentos realizados pelos governos dos países mais ricos, organizações privadas e multilaterais e empresas farmacêuticas multinacionais. Destaca-se que, além da inédita mobilização, as pesquisas prévias para a elaboração de vacinas contra outros coronavírus, como o SARS-CoV (2002) e o MERS (2012), foram determinantes para acelerar o desenvolvimento das vacinas covid-19.
As vacinas utilizam diferentes plataformas, como vírus inteiros inativados, subunidades proteicas, mRNA e vetores virais. Em todos os casos, o alvo dos imunizantes é a proteína S (spike), responsável pela ligação do vírus SARS-CoV-2 com as células humanas.
Informações detalhadas sobre as vacinas Covid-19 no Brasil estão disponíveis aqui.
Em situações normais, exige-se que as vacinas tenham eficácia acima de 70%. No entanto, uma vez que a disponibilização urgente de vacinas Covid-19 é necessária para o controle de uma pandemia que em muito pouco tempo já matou mais de 4 milhões de pessoas, a OMS definiu que índices superiores a 50% são aceitáveis. Acredita- se que, esse valor é suficiente para diminuir a circulação do vírus quando altas coberturas vacinais forem alcançadas.
Segundo critérios da OMS, uma vacina com perfil ideal deve:
Conferir proteção contra doença grave e moderada e, se possível, proteção esterilizante (impedir a infecção e transmissão).
Ter eficácia elevada e estimular a produção de altos títulos de anticorpos neutralizantes e imunidade celular.
Ser segura, com mínimos eventos adversos.
Induzir memória imunológica de longa duração.
Ter a possibilidade de uso em todas as faixas etárias da população: crianças, adolescentes, adultos e idosos, além de grupos específicos de risco aumentado, incluindo gestantes e puérperas.
Conferir proteção, idealmente com dose única.
Poder ser administrada por via oral ou nasal.
Ser resistente a longos períodos em temperaturas de 2ºC a 8 ºC.
Apresentar tecnologia com alto rendimento na produção.
Apresentar tecnologia com baixo custo de produção para oferecer vacina de baixo custo.
As vacinas são feitas a partir do vírus SARS-CoV-2 inativado, ou seja, morto. A inativação é feita com o auxílio de substâncias químicas que destroem o material genético do vírus e, consequentemente, impedem a sua replicação, o que o torna incapaz de causar a doença. Esse processo, no entanto, mantém íntegra a cápsula do vírus, onde está a proteína S, responsável pela ligação e penetração em nossas células.
Uma vez no organismo, o vírus vacinal é percebido como um agente estranho e desencadeia a resposta do sistema imunológico. As primeiras células envolvidas nessa resposta (células apresentadoras de antígeno) “absorvem” o vírus, o destroem em seu interior e levam a proteína S para sua superfície.
Nesse momento, os chamados linfócitos T auxiliares entram em ação. Eles detectam a proteína, encaixam-se a ela e recrutam os linfócitos B, que produzirão os anticorpos específicos contra a proteína S. Os linfócitos B também são ativados pelo próprio vírus vacinal.
Como o sistema imune “aprendeu” a se defender da proteína S, em caso de contato com o vírus, e enquanto a imunidade durar, o organismo será capaz de neutralizar rapidamente o SARS-CoV-2
As vacinas de vírus inteiros inativados geralmente são seguras e imunogênicas, embora produzam títulos de anticorpos menores e induzam memória imunológica não duradoura.
Para desenvolver este tipo de vacina, os pesquisadores inserem somente os genes que codificam a produção de proteína S (responsável pela ligação do novo coronavírus com as nossas células) dentro de outro vírus que não causa doença em pessoas e ainda é modificado para que seja incapaz de se replicar dentro do organismo. Esse vírus “carreador” é apenas um vetor da informação genética necessária para as células humanas fabricarem a proteína S. Ele não altera o nosso código genético.
Após a vacinação e a entrada do vetor vacinal na célula humana, esse gene que codifica a proteína S é transformado em uma molécula chamada RNA mensageiro (mRNA), que contém instruções para a produção de proteínas S, o que ocorre fora do núcleo das nossas células, onde está o nosso genoma. Essas proteínas produzidas se fixam na superfície celular.
A partir desse momento, o sistema imunológico começa a atuar em diferentes “frentes”:
os chamados linfócitos T auxiliares detectam o agente estranho e recrutam os linfócitos B, que produzirão anticorpos específicos contra a proteína S;
os linfócitos B entram em contato diretamente com a proteína S da superfície das células “vacinadas” e produzem os anticorpos;
outro tipo de linfócitos T, chamados citotóxicos (ou assassinos), também são recrutados e destroem diretamente qualquer estrutura que exiba a proteína S
as células “vacinadas”, ao morrerem, liberam fragmentos da proteína S que também são identificados pelo nosso sistema imune, desencadeando toda a resposta vacinal.
Enquanto a imunidade durar, caso a pessoa vacinada tenha contato com o vírus, o organismo será capaz de “lembrar” como fazer para neutralizar rapidamente o SARS-CoV-2.
A tecnologia de vacinas de RNA mensageiro (mRNA) é investigada há muitos anos. Em laboratório, os cientistas desenvolvem o mRNA sintético, que ensinará ao nosso organismo a fabricar a proteína S do SARS-CoV-2, responsável pela ligação do vírus com as nossas células. Por ser muito instável, o mRNA é recoberto por uma capa de lipídios (tipo de gordura) que o protegerá da degradação. É essencial deixar claro que a molécula não contém outra informação, não é capaz de realizar qualquer outra tarefa e não penetra no núcleo de nossas células. Então, não consegue causar a Covid-19 ou qualquer alteração em nosso genoma.
Uma vez que a vacina é injetada e capturada pelas chamadas células apresentadoras de antígeno, a partir das “instruções” do mRNA são fabricadas as proteínas S do novo coronavírus que, então, são transportadas até a superfície da célula, onde os processos de defesa são desencadeados:
Os chamados linfócitos T auxiliares detectam a proteína estranha e recrutam os linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos;
Os linfócitos B entram em contato com a proteína S da superfície e produzem os anticorpos específicos contra ela, que neutralizarão o novo coronavírus;
Outras células de defesa chamadas linfócitos T citotóxicos (ou assassinos) reconhecem e destroem diretamente qualquer estrutura que exiba a proteína S em sua superfície;
Quando a célula que absorveu o mRNA morre, a proteína S e seus fragmentos liberados podem ser identificados pelo nosso sistema de defesa que também desencadeia todo o processo.
Essa tecnologia permite a produção de volumes importantes de vacinas, mas exige, em geral, temperaturas muito baixas para conservação.
São baseadas em fragmentos do vírus, como a proteína S (spike), responsável pela ligação do SARS-CoV-2 com as nossas células. Essas partículas são percebidas como agentes estranhos e desencadeiam a resposta do sistema imunológico:
As células apresentadoras de antígeno “absorvem” a substância, a destroem em seu interior e levam até a superfície
Os chamados linfócitos T auxiliares detectam a proteína estranha e recrutam os linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos;
Os linfócitos B entram em contato com as proteínas do vírus e produzem os anticorpos específicos contra elas, que neutralizarão o novo coronavírus;
Outras células de defesa chamadas linfócitos T citotóxicos (ou assassinos) reconhecem e destroem diretamente qualquer estrutura que exiba as partículas virais envolvidas.
Exemplos destas vacinas
Novavax — utiliza a proteína S, com adjuvante Matrix-M1™ no Brasil