A Terceira Reunião Anual da Comissão Regional de Monitoramento e Verificação da Eliminação do Sarampo, da Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita nas Américas ocorreu de 14 a 16 de novembro com um panorama que revela progressos, mas também desafios persistentes na região. O evento, realizado em Brasília, no Brasil, reuniu representantes presenciais dos Programas de Vacinação e Câmaras Técnicas dos Ministérios da Saúde do Brasil e da Venezuela, bem como participantes virtuais de diversos países da região.
Desde o ano de 2022, observa-se uma recuperação nos indicadores de vacinação e vigilância de EPV (Eventos Pós-Vacinação) em comparação com o período da pandemia. No entanto, 2,2 milhões de crianças permanecem subvacinadas ou não vacinadas contra sarampo, rubéola e caxumba, enquanto 1 milhão não recebeu nenhuma dose para DTP1 (contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b). Essas informações foram apresentadas pelo Programa de Imunização nas Américas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) durante a abertura do evento.
Na reunião, foram revisados os relatórios anuais dos países de 2021 a 2023, monitorando e reverificando a eliminação do sarampo, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita (SRC) na Região das Américas. A representante da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, Socorro Gross, disse que os países das Américas têm realidades diferentes, mas o compromisso comum de “trabalhar arduamente nos Programas de Vacinação para manter a intervenção mais custo efetiva para as todas as populações”.
A coordenação da reunião ficou a cargo do presidente da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação, Jon Andrus, com relatoria da secretaria Técnica da OPAS no Programa Especial de Imunização Integral. Andrus ressaltou que, além de revisar as evidências país por país, a reunião tem o objetivo de fornecer recomendações para trazer avanços e sustentar a eliminação do sarampo e da rubéola na Região. “Como o resto do mundo pode aprender com essas experiências? Precisamos continuar trabalhando juntos para atingirmos as nossas metas”, destacou.
No cenário mundial, Natasha Crowcroft, da OMS, contextualizou a situação atual do sarampo e da rubéola, apontando que 47 países enfrentam surtos significativos ou preocupantes de sarampo, concentrados países da África, leste europeu e Ásia. Ela enfatizou o sarampo como o "vírus da desigualdade", dado que a maioria dos casos ocorre em países de renda média-baixa.
Na Região das Américas, os dados de 2023, apresentados por Desiree Pastor e Glória Rey, assessoras de Imunização da OPAS e da OMS revelaram que apenas três países reportaram casos de sarampo: Canadá (8 casos), Chile (1 caso) e Estados Unidos (41 casos), marcando o menor número de casos confirmados na história da Região. No entanto, a cobertura vacinal contra o sarampo continua sendo um desafio, com quedas registradas mesmo antes da pandemia de COVID-19.
Panorama Mundial e nas Américas
Em relação à rubéola, foram reportados 91 casos em oito países entre 2010 e 2023, com 17 casos de síndrome de rubéola congênita nos Estados Unidos e Canadá. O risco para a Região destaca-se pela imunidade populacional, e oito países, incluindo Argentina, Brasil, Colômbia, México e Venezuela, tiveram um número significativo de crianças de um ano sem receber doses da vacina SRP.
Observou-se que a maioria dos países da Região relatou coberturas entre 80% e 99% para a primeira dose da vacina contra sarampo, rubéola e caxumba, enquanto apenas 10 países alcançaram cobertura igual ou superior a 95%. Nove países, Paraguai, El Salvador, Bolívia, British Virgin Islands, Peru, Equador, Haiti, Granada e Honduras, não atingiram os 80% de cobertura vacinal.
Embora a eliminação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita nas Américas tenha sido alcançada e verificada em abril de 2015, e a do sarampo em setembro de 2016, a transmissão endêmica retornou à República Bolivariana da Venezuela e ao Brasil em 2019.
Brasil apresenta avanços e estratégias
Durante o primeiro dia da Reunião o Brasil apresentou dados e ações para interromper a circulação do vírus do sarampo e sustentar a eliminação do vírus da rubéola. O diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil, Eder Gatti, destacou a importância desse momento de avaliação, expressando a esperança de que o esforço brasileiro resulte em avanços significativos e na certificação do país pela eliminação dessas doenças.
O Brasil havia eliminado o sarampo em 2016. Porém, a combinação de casos importados com a baixa cobertura vacinal levou a um surto da doença. Desde então, o Ministério da Saúde, os estados e os municípios brasileiros têm buscado, em parceria com a OPAS, fortalecer e integrar ações de vigilância epidemiológica, laboratório, vacinação, atenção primária, comunicação e mobilização social e comunitária.
Como resultado desses esforços, o presidente da Câmara Técnica do Brasil de Verificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita, Renato Kfouri, destacou que o Brasil não registra nenhum caso de sarampo desde junho de 2022, totalizando 74 semanas sem confirmações. Em termos de financiamento, o país investiu R$ 724,1 milhões em 2023 em Vigilância em Saúde, Laboratórios Estaduais, Imunobiológicos, Capacitação e Imunização, demonstrando um compromisso substancial com a saúde pública.
Para reverter a tendência de declínio na vacinação e atingir altas coberturas, o Brasil vem implementando ações regionalizadas de multivacinação, considerando as diversas realidades locais através do microplanejamento e workshops de capacitação para todos os estados brasileiros.
Até agosto de 2023, as coberturas da vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, caxumba e rubéola, em crianças de um ano atingiram 83% na primeira dose e 59% na segunda dose. Estratégias como a Operação Gota na região norte e amazônica resultaram na aplicação de mais de 40 mil doses em populações localizadas em áreas de difícil acesso, representando quase 60% do total administrado nos últimos quatro anos.
Outras iniciativas focadas em áreas de difícil acesso incluíram a vacinação dos povos indígenas, com mais de 163 mil doses aplicadas em 2023, e a criação do COE Yanomami, responsável por administrar mais de 53 mil doses de vacinas de rotina.
Nas áreas de fronteira, parcerias estratégicas com outros países resultaram em um incremento de 3,4% na aplicação da primeira dose da tríplice viral e 1,54% na segunda dose.
Classificações e recomendações
A Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) avalia a situação das doenças nos países das Américas para manter a região livre desses vírus. No encerramento da reunião foram apresentadas as classificações dos países.
O Brasil está classificado como pendente de verificação para sarampo, o que significa que é um país que interrompeu a transmissão endêmica do vírus causador dessa doença, mas os dados ainda não são suficientes para verificá-lo novamente como livre de sarampo.
Como recomendações para o país, a Comissão elencou a finalização das atividades de microplanejamento no programa de rotina para melhorar os níveis de imunidade da população; a implementação de atividades de intensificação da vacinação em localidades de alto risco; a continuidade dos esforços para modernizar os sistemas de informação de vacinação e de vigilância baseada em casos; a implementação da ferramenta de avaliação de risco da OPAS; e melhorias na aquisição de suprimentos de laboratório para testes sorológicos e moleculares.
A Comissão realizará uma nova reunião para discutir a possível reverificação do Brasil antes da Quarta reunião, prevista para 2024.
A Venezuela recebeu a classificação de reverificado, que indica que havia perdido o status de livre de sarampo e foi verificado novamente. A Comissão também verificou que Argentina, Bolívia, Canadá, Caribe anglófono, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, departamentos ultramarinos da França, El Salvador, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, República Dominicana e Uruguai tiveram sua eliminação sustentada.
Haiti, Panamá e Peru foram classificados como indeterminado. Ou seja, países com dados ainda inconclusivos ou problemas de qualidade para verificar a sustentabilidade da eliminação progressiva em seus territórios.