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O que é?
O vírus sincicial respiratório (VSR) é uma das maiores causas de infecções respiratórias em recém-nascidos e crianças pequenas, sobretudo bebês. É um dos principais vírus associados à bronquiolite, quadro caracterizado pela inflamação dos bronquíolos — pequenas e finas ramificações dos brônquios, que transportam o oxigênio até o tecido pulmonar. Outros vírus que também podem causar bronquiolite são influenza, parainfluenza e adenovírus.
A infecção por VSR pode causar quadros graves, que demandam internação, em adultos mais velhos. Além disso, é capaz de levar à piora ou à descompensação de condições de saúde pré-existentes, como cardiopatias, pneumopatias, diabetes, hepatopatias e nefropatias.
Epidemiologia
O VSR circula com maior intensidade no inverno e início da primavera, quando pode causar epidemias, embora a sua sazonalidade varie localmente nas diferentes regiões do Brasil. Surtos em outras estações do ano não são incomuns, especialmente em regiões de clima tropical como o nosso país.
Quase todas as crianças são infectadas com VSR pelo menos uma vez até os 2 anos de idade. Recorrências em outros momentos da vida são comuns, uma vez que a infecção não proporciona imunidade completa, mas em geral são menos graves.
Nos Estados Unidos, o VSR é responsável por mais de 50 mil hospitalizações entre menores de 5 anos de idade. No Brasil, de 2020 a 2022, segundo dados do SIVEP-Gripe, houve mais de 30 mil casos de doença grave pelo VSR – em 2022, a letalidade por SRAG pelo VSR nas pessoas a partir de 60 anos foi de 21%.
Como a vigilância e os testes laboratoriais para o VSR em adultos eram limitados, os números do VSR nessa população não são precisos e podem subestimar o verdadeiro impacto do vírus. Nos Estados Unidos, em pessoas com 65 anos ou mais, o VSR é responsável por aproximadamente 60.000 a 160.000 hospitalizações e 6.000 a 10.000 mortes a cada ano.
Idosos com maior risco de infecção grave por VSR geralmente apresentam uma ou mais condições médicas crônicas. Entre elas estão: doenças pulmonares (DPOC e asma); doenças cardiovasculares (como insuficiência cardíaca congestiva e doença arterial coronariana); imunocomprometimento moderado ou grave (por doença ou por tratamento); diabetes mellitus; distúrbios renais e hepáticos; e distúrbios hematológicos. A fragilidade, a idade avançada e a residência em instituições de repouso ou de tratamento paliativo são outros fatores que aumentam o risco destes pacientes, que apresentam maiores taxas de hospitalização.
Sintomas
- A maioria das crianças infectadas tem apenas sintomas leves, geralmente semelhantes aos sintomas de um resfriado comum, mas em menores de 2 anos a infecção pode evoluir para sintomas mais graves e associados à bronquiolite;
- Inicialmente, há coriza, tosse leve e, em alguns casos, febre;
- Em um a dois dias, pode haver piora da tosse, dificuldade para respirar, aumento da frequência respiratória — com chiado a cada expiração — e dificuldade também para mamar e deglutir. Como sinal da menor oxigenação, pode haver azulamento dos dedos e lábios.
- A maioria dos adultos apresenta uma infecção leve do trato respiratório superior pelo VSR, com sintomas que duram apenas alguns dias. Alguns, no entanto, desenvolvem doenças graves do trato respiratório inferior, incluindo pneumonia, sobretudo a partir de 60 anos de idade.
- Além disso, a infecção pelo VSR em indivíduos com 60 anos ou mais pode piorar ou descompensar doenças crônicas pré-existentes. Isso leva a taxas de internação mais altas e, consequentemente, à deterioração do quadro geral de saúde, com perda de independência, declínio cognitivo, e prejuízos na funcionalidade e na qualidade de vida no período posterior à doença.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, mas a identificação e confirmação do VSR é feita por exames laboratoriais, entre os quais testes rápidos e ensaios moleculares (como PCR-RT) que detectam o antígeno viral.
Tratamento
Não há tratamento específico para o VSR. Diante de um quadro grave, é imprescindível a hospitalização para oxigenoterapia e outras medidas de suporte. Pode ser necessário o uso de respiradores mecânicos, em ambiente de UTI.
A maioria dos pacientes inicia a recuperação em cerca de sete dias e se restabelece totalmente. Entretanto, crianças podem desenvolver alterações respiratórias crônicas e tornam-se mais propensas à asma no futuro. Entre adultos a partir de 60 anos, a recuperação é mais lenta e pode trazer, além de maior risco para eventos cardiovasculares, importante e progressiva perda da qualidade de vida. Quanto mais avançada a idade, maior é a vulnerabilidade,
Transmissão
O VSR é transmitido pelas secreções do nariz ou da boca da pessoa infectada, por contato direto ou por gotículas. A transmissão começa dois dias antes de aparecerem os sintomas e só termina quando a infecção está completamente controlada. O período de maior contágio é nos primeiros dias da infecção. A incubação varia de dois a oito dias (em média quatro a seis dias).
Prevenção
1) Gestantes
- A SBIm recomenda a vacinação como rotina entre a 32ª e a 36ª semanas de gestação, a qualquer momento, independente da sazonalidade;
- No entanto, como a vacina (Abrysvo®) é licenciada pela Anvisa a partir da 24ª semana de gestação, fica a critério médico o uso antes das 32 semanas.
- Não há indicação a partir da 36ª semana porque a estratégia só tem sucesso na prevenção de doença do trato respiratório inferior (DTRI) por VSR no recém-nascido caso a vacinação ocorra pelo menos 14 dias antes do parto. Além disso, já há dados que demonstram que quanto maior é o intervalo entre a vacinação materna e o parto, maior é transferência de anticorpos para o feto;
- Pode ser coadministrada com as outras vacinas de rotina da gestante;
- Não há recomendação para revacinação em gestações subsequentes, mas a orientação poderá ser modificada quando mais dados sobre a duração da proteção estiverem disponíveis.
2) Recém-nascidos e lactentes
Para esse grupo, há duas estratégias: a vacinação da gestante com Abrysvo® OU o uso de anticorpos monoclonais na criança após o nascimento. O anticorpo monoclonal não é recomendado para lactentes saudáveis menores de 12 meses cujas mães foram vacinadas contra o VSR pelo menos 14 dias antes do parto. Em situações específicas, no entanto, as duas estratégias podem ser consideradas. São elas:
- Mães vacinadas com menos de 14 dias antes do parto;
- Mães imunocomprometidas;
- Recém-nascidos de alto risco: doença pulmonar crônica da prematuridade com necessidade de suporte médico, imunocomprometimento grave, fibrose cística, cardiopatias congênitas não corrigidas e síndrome de Down.
Para a profilaxia com os anticorpos monoclonais, há dois anticorpos monoclonais anti-VSR, o palivizumabe e o nirsevimabe:
- O palivizumabe está disponível no PNI para as crianças com risco elevado de desenvolver infecção grave por VSR, caso de prematuros nascidos com menos de 29 semanas de gestação e de bebês e crianças jovens com doenças cardíacas ou pulmonares graves. É administrado por injeção intramuscular, uma vez por mês, durante o período de maior circulação do VSR, que varia de região para região no Brasil.
- O nirsevimabe já foi aprovado pela Anvisa e em breve estará disponível no sistema privado de vacinação. É recomendado em dose única para todas as crianças menores de 12 meses, a qualquer momento, independentemente de sazonalidade. Na segunda sazonalidade, é recomendado para crianças com maior risco: doença pulmonar crônica da prematuridade (DPCP) com necessidade de suporte médico, imunocomprometimento grave; fibrose cística, cardiopatias congênitas não corrigidas e síndrome de Down.
- Sazonalidade do VSR para administração de palivizumabe, de acordo com o Ministério da Saúde:
- Região Norte: fevereiro a junho;
- Demais regiões: março a julho.
3) Vacinação de idosos
- Para idosos, as duas vacinas (Abrysvo® ou Arexvy®) são recomendadas na rotina pela SBIm, sem preferência entre elas, para pessoas a partir dos 70 anos de idade, independentemente da existência de comorbidades. Além disso, são recomendadas para as pessoas de 60 a 69 anos que tenham comorbidades de risco para doença grave pelo VSR. São consideradas condições de risco aumentado: cardiopatias, pneumopatias, diabetes, obesidade, nefropatias, hepatopatias e imunossupressão, além de idosos fragilizados, acamados e/ou residentes em instituições de longa permanência;
- O esquema é de dose única, a qualquer momento, independentemente de sazonalidade;
- O uso concomitante com outras vacinas recomendadas para a faixa etária é permitido, embora estudos de segurança e imunogenicidade sobre aplicação simultânea ainda estejam em andamento;
- Os dados atuais demonstram proteção por duas temporadas. Até o momento, no entanto, não há evidências que sustentem a recomendação de reforços.
Imunizantes disponíveis