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Estudo inédito lista recomendações para o uso da vacina febre amarela em pessoas com doenças inflamatórias crônicas imunomediadas

Um painel formado por 22 profissionais das sociedades brasileiras de Reumatologia (SBR), Imunizações (SBIm), Infectologia (SBI), Medicina Tropical (SBMT), Dermatologia (SBD) e do Grupo de Estudo de Inflamatória Intestinal do Brasil (GEBIID) publicou na edição de abril de 2019 do periódico científico Advances in Rheumatology oito recomendações para o uso da vacina febre amarela em pessoas com doenças inflamatórias crônicas imunomediadas (DICIM).

A necessidade de diretrizes para esses indivíduos, em tese mais sujeitos a eventos adversos, ficou evidenciada nos últimos três anos, quando a febre amarela silvestre reemergiu no país. Para atender à demanda, os especialistas fizeram uma revisão sistemática da literatura sobre o tema, o que incluiu testes clínicos, estudos observacionais e estudos de caso sobre a segurança da vacina em pacientes com DICIM, sob tratamento ou não.

Foram encontrados 184 trabalhos e, após análise inicial, selecionados 17 que atendiam aos critérios estipulados — 11 eram observacionais (coortes, controles de caso ou transversais) e seis se tratavam de séries de casos. Os observacionais reuniam 692 pessoas com DICIM que receberam a vacina, apesar do diagnóstico, e apontaram que a incidência de eventos adversos pós-vacinais foi semelhante à de indivíduos sadios e que não houve eventos adversos graves.

Em seguida, os pesquisadores responderam anonimamente um questionário para avaliar a segurança do imunobiológico diante de diferentes quadros de imunossupressão. Os itens que obtiveram um consenso de 80% ou mais deram origem a lista apresentada abaixo. É importante ressaltar que o processo de decisão deve ser sempre individual e idealmente compartilhado com o paciente.

Recomendações

  1. A vacina febre amarela não deve ser administrada em indivíduos com DICIM com elevada imunossupressão. Para aqueles com baixa ou nenhuma imunossupressação, é recomendada a avaliação individual do risco da vacinação. Essa análise deve ser feita por um médico, preferencialmente o que acompanha o paciente.
  2. A vacina não deve ser administrada em pacientes com DICIM com alta atividade da doença de base. Por outro lado, não há contraindicação para os pacientes clinicamente estáveis ou com a doença de base sem atividade. Nesse caso, o risco deve ser avaliado por um médico, preferencialmente o que acompanha o paciente.
  3. A vacina não deve ser administrada em pacientes com DICIM que estejam usando altas doses de corticosteroides. O risco a pacientes submetidos a tratamentos com doses baixas deve ser avaliado por um médico, preferencialmente pelo que acompanha a pessoa em questão.
  4. A revacinação com a vacina febre amarela não deve ser feita em pacientes com DICIM sob baixa imunossupresão. Em situações específicas, nas quais o booster é necessário, o risco de vacinar pacientes com baixa ou nenhuma imunossupressão deve ser avaliado individualmente por um médico, preferencialmente pelo que acompanha o paciente.
  5. Em situações de risco epidemiológico, quando a vacina febre amarela é indicada, é recomendado um intervalo mínimo de quatro semanas entre a aplicação e o início ou a retomada do tratamento com drogas imunomoduladoras ou imunossupressoras.
  6. Em situação de risco epidemiológico, quando há indicação da vacina febre amarela, recomenda-se aguardar um período mínimo entre a suspensão dos medicamentos e a aplicação da vacina, que varia de acordo com o grau de imunossupressão. O processo de descontinuação do tratamento deve ser assistido por um especialista e conduzido de forma individual.
  7. Quando a vacina febre amarela é indicada a pacientes com DICIM, recomenda-se não aplicá-la simultaneamente a outra vacina de vírus vivo atenuada, especialmente a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). Se houver necessidade de administração de ambas, a orientação é aguardar um intervalo de 28 dias.
  8. Não há contraindicação da vacinação contra a febre amarela para contactantes de imunodeprimidos, uma vez que não há evidências da transmissão do vírus vacinal sem a participação de vetor, exceto via amamentação, doação de sangue e, possivelmente, acidentes com materiais biológicos.

A íntegra do estudo, em inglês, pode ser acessada aqui.