Apesar das quedas nas coberturas vacinais, 97% dos brasileiros concordam ou concordam fortemente que é importante vacinar as crianças, aponta o estudo Wellcome Global Monitor 2018, realizado em 140 países com o objetivo de avaliar a percepção sobre questões relacionadas à ciência em geral e à saúde pública. O índice é superior à média global (92%) e o mesmo da América do Sul (97%), mas inferior ao dos vizinhos Equador, Colômbia, Venezuela (99%) e Argentina (98%). Os destaques nesse sentido foram o Chipre do Norte, Egito, Etiópia e Nicarágua, que atingiram 100%.
A necessidade de continuar a difundir informações confiáveis ficou explicita por outros quesitos investigados. Apenas 80% dos brasileiros manifestaram-se de forma positiva (concordam ou concordam fortemente) quando perguntados se as vacinas eram seguras e quando perguntados se elas eram eficazes. Se considerados só os que afirmaram concordar fortemente, os índices caem para 61% e 57%, respectivamente.
Para obter os resultados, foram realizadas 1.000 entrevistas presenciais em todo o país, com pessoas de diferentes faixas etárias, religiões, gênero, nível educacional e condição financeira. Terras indígenas, condomínios fechados e áreas onde a segurança dos entrevistadores pudesse ser ameaçada foram excluídas. De acordo com os autores do trabalho, o corte reflete aproximadamente 1% da população nacional.
Europa preocupa
A pesquisa reiterou o que outros estudos haviam constatado. A desconfiança quanto às vacinas é superior nas regiões mais desenvolvidas economicamente, em especial na Europa: no leste do continente, 50% concordam ou concordam fortemente que as vacinas são seguras, enquanto no oeste o percentual é de 59%. No que diz respeito à eficácia, os índices são de 65% e 77%, respectivamente. Para efeitos comparativos, a média global de avaliação positiva sobre segurança é de 79%; sobre eficácia, 84%.
A situação mais grave é na França, país que ocupa a primeira posição no ranking de turismo internacional da Organização Mundial de Turismo (OMT), com quase 87 milhões de visitantes estrangeiros recebidos em 2017. Noventa por cento dos franceses não acreditam ser importante vacinar as crianças, 81% não acreditam na eficácia das vacinas e 67% duvidam da segurança.
A publicação destaca que a hesitação entre os franceses — que não é nova, mas se intensificou desde a pandemia de influenza de 2009 e agora também é reforçada por alguns membros da comunidade médica — é responsável pela queda na cobertura vacinal e o consequente aumento de casos de sarampo e doença meningocócica. Em resposta, o Governo expandiu de três para 11 o número de vacinas obrigatórias para crianças com até 2 anos e passou a promover campanhas e oferecer suporte adicional a profissionais da saúde que lidam com esses pacientes.
Exemplos positivos
Ruanda e Bangladesh conseguiram os melhores resultados quando levados em conta os três pontos avaliados: percepções sobre importância, segurança e eficácia. Em Bangladesh, o comprometimento com a vacinação infantil permitiu ao país atingir a quarta meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio — a redução da mortalidade infantil. Paralelamente, desde 2017, o país colabora com a Unicef e outras instituições para conter o crescimento de doenças imunopreveníveis como a difteria entre os refugiados Rohingya (minoria muçulmana perseguida em Mianmar).
Em Ruanda, a colaboração com parceiros internacionais, agentes comunitários de saúde e a adoção de soluções tecnológicas adaptáveis à realidade local elevou a cobertura vacinal média de 30%, em 1995, para os atuais 95% — com homogeneidade geográfica e de gênero. Nesse período, marcado pela queda significativa na incidência de doenças imunopreveníveis, seis novas vacinas foram incorporadas à rotina do programa de imunização público.
Credibilidade do profissional da saúde
Pessoas que indicam médicos e enfermeiros como a principal fonte de informação em saúde acreditam mais na segurança das vacinas (81%) do que aqueles que priorizam outras fontes (72%), como amigos, família, líderes religiosos e curandeiros tradicionais. Além disso, o nível de confiança em médicos e enfermeiros parece estar diretamente relacionado a uma melhor percepção sobre segurança. Dos entrevistados que declararam “confiar muito” nos profissionais, 87% concordam ou concordam fortemente que as vacinas não são danosas à saúde. Entre os que responderam “não confiar muito” ou “não completamente”, o índice foi de 67%.
O resultado vai de encontro a outras pesquisas e enquetes internacionais de menor porte, inclusive uma realizada pela SBIm. Por essa razão, a Sociedade tem intensificado as ações junto à comunidade médica — especialmente em áreas além da pediatria —, seja por meio de campanhas de comunicação, parcerias com sociedades de especialidade, entre outras iniciativas.
O relatório completo do Wellcome Global Monitor 2018, informações sobre metodologia e os resultados aferidos em cada país podem ser acessados em https://wellcome.ac.uk/reports/wellcome-global-monitor/2018.