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XXII Jornada Nacional de Imunizações reúne online mais de 2 mil participantes

No ano em que o assunto vacina tomou conta das conversas no dia a dia, a XXII Jornada Nacional de Imunizações reuniu, pela primeira vez online, as principais referências brasileiras, convidados internacionais de excelente nível e instituições da área da saúde para debater o que há de mais recente sobre o tema. O evento, que ocorre entre 15 e 17 de outubro, tem cerca de 85 palestras, divididas em 40 mesas. Mais de 2 mil pessoas se inscreveram antecipadamente.

O presidente da SBIm, Juarez Cunha, iniciou as atividades com uma homenagem às mais de 1 milhão de vítimas da COVID-19 — 150 mil no Brasil — e prestou solidariedade a todos que perderam pessoas queridas, bem como aos profissionais da saúde que “na linha de frente, sob toda a sorte de riscos, têm ajudado tanto nessa batalha”.

Cunha também alertou para a necessidade de atenção com as coberturas vacinais. Em redução constante desde 2016, os índices caíram ainda mais este ano, provavelmente devido ao receio de infecção pelo novo coronavírus. O cenário é extremamente preocupante, tendo em vista que facilita surtos e expõe uma parcela expressiva da população, sobretudo crianças, a riscos desnecessários.

Salão de eventos virtual criado para participantes "passearem" pela Jornada.

Nesse sentido, o médico defendeu a urgência de frear o aumento no país da hesitação vacinal, termo usado para se referir ao atraso ou recusa das vacinas recomendadas, apesar da disponibilidade nos serviços de saúde. Para tanto, segundo ele, os profissionais da área devem estar cada vez mais capacitados e atualizados. A Jornada SBIm é uma das iniciativas da Sociedade com esse objetivo.

“É fundamental relembrarmos às pessoas o valor das vacinas como uma das principais estratégias de prevenção de danos à saúde e de promoção da qualidade de vida, reforçarmos sua segurança e eficácia, e acolhermos cada paciente com a devida atenção ao seu histórico vacinal e a imprescindível indicação/prescrição dos imunobiológicos necessários”, destacou.

A vice-presidente da SBIm, Isabella Ballalai, fez coro ao discurso. Segundo ela, vivemos uma quadrupla pandemia: de COVID-19, de desinformação, de politização da ciência e de baixas coberturas vacinais. Diante disso, afirmou, “o empoderamento de nós, profissionais da saúde, é mais do que necessário. É isso que faz a população se vacinare acreditar na ciência”. À frente da Comissão Científica, Ballalai mencionou, ainda, o desafio de reestruturar o evento, cuja programação e dinâmica precisaram ser alteradas bruscamente.

A presidente da Jornada, Sílvia Bardella, seguiu pelo mesmo caminho. A médica agradeceu a todos queajudaram a viabilizar o encontro e ressaltou as inúmeras oportunidades de aprendizado que o encontro propiciará. “Que possamos sair desses três dias mais completos e mais preparados para enfrentar a COVID 19 ou qualquer outro agente que se aventure a nos desafiar nos próximos anos. Que a humanidade possa sempre, com confiança, por meio da ciência, superar qualquer obstáculo”, disse Bardella, que aproveitou que a abertura coincidiu com o Dia dos Professores para agradecê-los pela formação desde a infância.

Parceria

Ao longo de mais de duas décadas de existência, a SBIm estabeleceu uma estreita relação com o Programa Nacional de Imunizações (PNI). A coordenadora do PNI, Francieli Fantinato, gravou um vídeo no qual agradece o apoio e pede aos presentes para se engajarem nas Campanhas Nacionais de Multivacinação e de Vacinação contra a poliomielite. As ações acontecem até 30 de outubro, e o “Dia D” é em 17 de outubro.

Assista.

Conferência de abertura

Como não poderia ser diferente, a grade científica da Jornada foi inaugurada com uma palestra sobre COVID-19. Renato Kfouri, diretor da SBIm e responsável pela aula, começou a explanação com um apanhado das características do Sars-Cov-2, sua expressão nos diferentes órgãos e sistemas, bem como as mutações genéticas mapeadas até o momento — sobretudo a variante D614G, que conferiu maior transmissibilidade.

Em seguida, Kfouri traçou um panorama das mais de 190 vacinas candidatas. Ele explicou o mecanismo de funcionamento das tecnologias empregadas, os estudos que avaliam se as vacinas BCG, poliomielite e tríplice viral são capazes de produzir efeitos inespecíficos no sistema imunológico que poderiam diminuir a gravidade das infecções, e as mudanças de paradigma no processo de desenvolvimento em decorrência da pandemia.

Na opinião do médico, vivemos um momento em que o número de questionamentos é maior que o de respostas. Qual será a duração da proteção? Haverá necessidade de reforços? Qual o perfil de eficácia? Como as vacinas se comportarão em grupos mais vulneráveis? Há muito a descobrir e a velocidade da produção científica sobre o tema, algo nunca antes visto, pode tornar o conhecimento atual defasado em pouco tempo.

A imunidade de rebanho também foi abordada. De acordo com Kfouri, modelos matemáticos baseados na taxa de transmissibilidade de outros vírus indicam que a circulação do vírus poderia ser interrompida se 60% da população fosse infectada. Entretanto, localidades que contiveram o vírus após a adoção de medidas sociais, como Wuhan e Nova York registravam uma soroprevalência de 10% e 19,9% após a retomada das atividades, respectivamente.

A discrepância entre a hipótese e a prática pode ser fruto da dificuldade de aferir o índice devido à inexistência de ferramentas eficazes. Uma série de fatores contribui para isso. Entre eles os indivíduos assintomáticos, a baixa capacidade de testagem, infectados que não desenvolveram IgG, bem como a perda de anticorpos em pessoas pouco sintomáticas. Segundo estudos, 40% se tornam soronegativos em um período de 8 a 12 semanas.

Clínica-modelo

Uma das atrações mais concorridas da Jornada, a Clínica-Modelo está presente na internet. É possível fazer uma visita 3D por um serviço de vacinação que atende às normas vigentes, assistir a vídeos instrutivos sobre técnicas de administração, armazenamentos de vacinas, EPI, entre outros. Sem restrição de horário.

Confira um aperitivo.