Coberturas baixas e heterogêneas aliadas à circulação do vírus em outros países tornam alto o risco de a doença voltar ao Brasil.
A SBIm realizou, em 26 de agosto, o encontro on-line Coalizão Pólio #VacinarParaNãoVoltar. O evento é parte da campanha “Paralisia infantil: a ameaça está de volta”, iniciativa da SBIm em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Bio-Manguinhos/Fiocruz, Rotary Club, Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD) e as sociedades brasileiras de Pediatria (SBP), Infectologia (SBI) e Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
Atualmente, o poliovírus selvagem está presente de forma endêmica apenas no Afeganistão e no Paquistão, que contabilizaram juntos 20 casos de pólio entre 2021 e 16 de agosto de 2022. Entretanto, à preocupação com os dois países, soma-se um movimento recente de expansão geográfica da circulação do vírus.
A África, considerada livre do agente infeccioso em 2020, voltou a ser atingida. Em 2021, uma menina de 3 anos do Malaui, não vacinada, foi diagnosticada com paralisia flácida aguda em estágio inicial, causada por poliovírus selvagem geneticamente associado a um vírus detectado no Paquistão no ano anterior. Em Moçambique, que faz fronteira com o Afeganistão, houve quatro casos em 2022.
As baixas coberturas vacinais também favorecem surtos de paralisia flácida aguda por poliovírus derivado da vacina oral poliomielite (VOP). Em 2021 e 2022, foram 448 registros na Nigéria, 148 no Iêmen e 73 na República Democrática do Congo. Entre 2020 e 2022, houve ainda 33 casos no Tadjiquistão, dois na Ucrânia, um nos Estados Unidos e um em Israel. Além disso, amostras do vírus foram isoladas nos esgotos de Londres e Nova York.
Nas Américas, a adesão às vacinas recua progressivamente. Em 2016, o índice de vacinação contra a pólio na região era de 87%, já abaixo dos 95% desejados para a eliminação da doença. Em 2020, a cobertura caiu para 80%. Neste momento, segundo relatório da Organização Pan-Americana referente a 2020, quatro países estão sob risco muito alto de retorno da pólio (Haiti, Venezuela, Peru e República Dominicana) e seis sob risco alto (Brasil, Bolívia, Panamá, Paraguai, Argentina e Equador).
No Brasil, a cobertura da vacina poliomielite inativada caiu de 98,3%, em 2015, para 69,9%, em 2021. E, não só baixos, os números são heterogêneos, o que significa a existência de bolsões de não vacinados. Os piores resultados foram observados no Amapá (44,2%), Roraima (50%), Rio de Janeiro (53,9%) e Pará (55,7%). No que diz respeito aos municípios, a homogeneidade foi de apenas 24,7%. Outros aspectos destacados como falhos no Brasil pela OPAS são a vigilância epidemiológica, a contenção de poliovírus e o preparo para lidar com casos e surtos.
Caminhos
Iniciativas importantes para reverter o cenário já estão ocorrendo. Uma delas é o Projeto pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, parceria da SBIm com Bio-Manguinhos/Fiocruz e o Ministério da Saúde. Os objetivos são auxiliar os municípios a sanar problemas de infraestrutura, pessoal e sistemas de informação, bem como criar uma grande rede de mobilização social em prol das vacinas.
O projeto começou nos 16 municípios do Amapá e em 25 da Paraíba, por meio de reuniões com coordenadores municipais de imunizações, coordenadores municipais da atenção primária, profissionais das salas de vacinas, membros do CONASS, CONASEMS, representantes de universidades, entidades religiosas, associações não governamentais que prestam auxílio a pessoas em vulnerabilidade social, entre outras.
Os municípios traçaram os planos a serem adotados de acordo com as características de cada localidade. A execução será acompanhada e avaliada. Caso os resultados sejam positivos, será criada uma metodologia para ser implantada em todo o país. A expectativa é a de que o processo termine em 2025.
Outros grandes atores no combate à pólio, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Rotary Club também falaram no evento sobre suas atividades. O Unicef está prestes a lançar, em 2 mil municípios da Amazônia Legal e do Semiárido Brasileiro, uma plataforma tecnológica para a busca ativa de não vacinados.
O Rotary Club, por sua vez, prossegue as ações desenvolvidas há mais de 35 anos. No Brasil, atua no apoio às campanhas de vacinação, na captação de recursos financeiros e exerce trabalhos de advocacia junto a autoridades nacionais e regionais de saúde. Estima-se que a instituição já tenha doado 2,4 bilhões de dólares para o combate à pólio.
Agradecimento
A SBIm agradece a todos que assistiram e colaboraram com o webmeeting, em especial os palestrantes:
- Luiza Helena Falleiros Arlant, membro da Câmara Técnica de Poliomielite e do Comitê de Certificação de Erradicação da Pólio do Ministério da Saúde;
- Lely Guzmán, assessora em imunização da Organização Pan-Americana da Saúde;
- Franciele Fontana, servidora do Programa Nacional de Imunizações;
- Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia;
- Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e diretor da SBIm;
- Cristina Albuquerque, chefe de Saúde e HIV/Aids do Fundo da Infância das Nações Unidas (UNICEF) no Brasil;
- Marcelo Haick, curador da Fundação Rotária (Rotary Club);
- Jorge dos Santos Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)
- Alice Rosa, superintendente clínica da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD);
- Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).