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XXIV Jornada Nacional de Imunizações reúne 1.500 pessoas em São Paulo

Cerca de 1.500 pessoas participaram da XXIV Jornada Nacional de Imunizações, que aconteceu em São Paulo, entre 7 e 10 de setembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. Foi a primeira edição presencial do encontro desde o início da pandemia de covid-19. Durante os quatro dias de evento, aconteceram mais de 100 atividades, ministradas por cerca de 130 palestrantes nacionais e estrangeiros.

Entre os destaques da programação estiveram as discussões sobre covid-19 — próxima geração de vacinas, pesquisas nacionais, eventos supostamente atribuíveis à vacinação, experiências bem-sucedidas, impacto da enfermidade —, doenças invasivas, novas recomendações SBIm sobre vacinação contra influenza, vacinação contra o HPV, queda nas coberturas vacinais e possibilidade de retorno de doenças controladas.

Público enche auditório na XXIV Jornada Nacional de imunizações. Foto: Sarah Daltri/SBIm.

A Clínica-Modelo SBIm: Enfermeira Mírian Moura, tradicional atração que tem como objetivo mostrar a estrutura preconizada para uma sala de vacinação e que abriga oficinas para profissionais de enfermagem novamente fez parte das atrações mais concorridas. Na sala, foram ministrados workshops sobre técnicas de aplicação, armazenamento e conservação de imunobiológicos, transporte, registro de informações sobre pacientes e mais.

A Jornada também teve anúncios importantes: o retorno a partir de 3 de outubro do Curso Sala de Vacinação (saiba mais), a inclusão de meninos de 9 e 10 anos no público-alvo da vacina contra o HPV e a oferta temporária, até 2023, da dose de reforço da vacina meningocócica ACWY para adolescentes de 13 e 14 anos (saiba mais). Além disso, os presentes puderam conhecer o Projeto Pela Reconquista das Coberturas Vacinais, iniciativa conjunta da SBIm, Bio-Manguinhos/Fiocruz e PNI (mais informações em breve).

Participantes assistem a workshop sobre montagem de caixa-térmica na Clínica-Modelo. Foto: Sarah Daltri/SBIm.

Tema e abertura

O tema desta edição — Pelas altas coberturas vacinais — não poderia ser mais pertinente. A adesão às vacinas no Brasil, em queda desde 2016, atingiu um patamar crítico. Em 2021, nenhuma das vacinas disponíveis para consulta no DataSUS superou a marca de 75%. As que previnem a poliomielite, doença sob alto risco de retornar ao país, não chegaram a 70%: 69,94%, para o esquema primário; 59,86%, para o primeiro reforço; e 54,31%, para o reforço dos 4 anos. O mínimo preconizado é 95%.

Na cerimônia de abertura, o presidente da SBIm, Juarez Cunha, manifestou pesar pelas mais de 700 mil vidas perdidas no Brasil pela covid-19. Visivelmente emocionado em seu último ano como presidente da SBIm, ele ressaltou que não seria possível realizar a Jornada de forma presencial sem a vacinação, a força do SUS e o empenho de profissionais da saúde que atuaram incansavelmente no combate à maior emergência em saúde pública desde a pandemia de Gripe Espanhola, em 1918.

Juarez Cunha, presidente da SBIm. Foto: Sarah Daltri/SBIm.

Cunha lamentou a baixa adesão às vacinas e conclamou os presentes: “Somente com nosso esforço conjunto — informando corretamente, combatendo a desinformação e a perda de oportunidades para vacinar, indicando e prescrevendo as vacinas —conseguiremos reverter esta situação. Peço a cada um de vocês, ao retornarem ainda mais capacitados e bem-informados às suas cidades, casas e postos de trabalho, para se dedicarem diuturnamente ao compromisso de reconquistarmos as altas taxas de coberturas vacinais”.

A presidente da Jornada e diretora da SBIm, Mônica Levi lembrou que, por décadas, os resultados obtidos pelas políticas de vacinação foram um orgulho para os brasileiros e exemplo internacional. A médica elogiou as iniciativas recentes do PNI para retomar as coberturas — inclusive, em meio ao desafio de organizar a vacinação contra a Covid-19 —, mas ressaltou que é hora de buscar novas abordagens.

Mônica Levi, diretora da SBIm e presidente da XXIV Jornada Nacional de Imunizações. Foto: Sarah Daltri/SBIm.

“Chegou o momento de enfrentarmos de modo mais incisivo as dificuldades, os obstáculos apresentados e lançar mão de estratégias que possam ser mais eficazes para o controle ou eliminação de tantas doenças imunopreveníveis”, defendeu. O sucesso, afirmou, depende da atuação de todos os atores envolvidos no processo: “daqueles que definem as diretrizes políticas, dos gestores que organizam a logística e lidam com as peculiaridades de cada local, da comunicação com a população e dos que se encontram nas salas de vacinação”.

“É também com espírito de luta que pensamos a Jornada. Por isso, além de contribuir para a atualização dos profissionais da saúde, temos o objetivo de levantar discussões sobre a situação que vivenciamos e incentivar cada um de nós a militar pela reconquista das altas taxas de cobertura vacinais, incansavelmente. Com certeza conseguiremos mais uma vez fazer um evento consistente, de muitas oportunidades de aprendizado, inspirador e cheio de calor humano”, afirmou.

Palavra do PNI

A coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Adriana Lucena, agradeceu o convite para participar da Jornada, a parceria com a SBIm e homenageou os profissionais da saúde que “trabalharam incansavelmente nos últimos dois anos para conseguir debelar e controlar a covid-19”. A epidemiologista foi mais uma a mostrar-se insatisfeita com os baixos números da vacinação, que já permitiram a volta do sarampo ao país. Ela classificou um possível retorno da pólio como um retrocesso incalculável, mas afirmou que ainda há tempo de agir.

“Quero aproveitar o momento e pedir a união de cada um de vocês — médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde — para trabalharmos as estratégias a nível da ponta, com a população, para saber o que podemos fazer para aumentar a adesão. Vacinas são importantes, necessárias e salvam vidas”, disse.

Adriana Lucena, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Foto: Sarah Daltri/SBIm.

Aulas magnas

A Jornada teve duas conferências de abertura. Na primeira, a representante da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil, Socorro Gross Galiano, iniciou sua fala destacando o histórico exitoso das imunizações no continente. Em meio a uma grande diversidade econômica, cultural, política e geográfica, as Américas foram pioneiras na eliminação da varíola e poliomielite e posteriormente obtiveram sucesso com a rubéola, a síndrome da rubéola congênita e o tétano materno e neonatal.

O cenário, no entanto, mudou. O sarampo, que chegou a ser eliminado, retornou e o mesmo pode ocorrer com a pólio. Uma análise da entidade — que leva em conta fatores como coberturas vacinais, vigilância epidemiológica, determinantes de saúde, situação de contenção, e preparação e resposta a surtos — indica que o risco de reintrodução do vírus é muito alto em quatro países (Haiti, Brasil, República Dominicana e Peru) e alto em outros oito países da região (Equador, Bolívia, Venezuela, Panamá, Guatemala, Bahamas, Argentina e Suriname). O Brasil é o segundo mais mal avaliado, atrás do Haiti.

Socorro Gross Galiano, representante da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil. Foto: Sarah Daltri/SBIm.

“Isso é realmente preocupante. Nasci no tempo da pólio e a vida me colocou na República Dominicana em meio a um grande surto”, contou a epidemiologista, que é costarriquenha. Galiano mencionou o relatório da OMS e da Unicef que apontou que 2021 marcou a maior queda ininterrupta nas coberturas vacinais das últimas três décadas e lamentou: “É terrível pensar que temos crianças que podem ficar em uma situação horrível quando temos ferramentas tão custo-efetivas para evitar”.

A representante da OPAS também entregou uma homenagem à SBIm (saiba mais).

A segunda aula, do assessor científico sênior de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Akira Homma, um dos principais ícones das imunizações no Brasil, foi sobre o Projeto Pela Reconquista das Coberturas Vacinais. Ele detalhou a iniciativa, em andamento nos 16 municípios do Amapá e em 25 da Paraíba, comentou as principais dificuldades encontradas, afirmou que a baixa adesão é um problema de causas múltiplas e ressaltou o papel da comunicação e do trabalho junto à ponta para contornar o cenário (saiba mais).

Componentes da mesa de abertura durante a execução do Hino Nacional (a partir da esquerda): Cristina Albuquerque, chefe de Saúde e HIV/Aids do Unicef; Akira Homma, consultor científico sênior de Bio-Manguinhos/Fiocruz; Adriana Lucena, coordenadora do PNI; Juarez Cunha, presidente da SBIm; Juarez Cunha, presidente da SBIm; Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e diretor da SBIm; Mônica Levi, diretora da SBIm e presidente da Jornada;Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm; e Socorro Gross Galiano, representante da OPAS no Brasil. À direita, Ricardo Machado, coordenador de comunicação da SBIm e mestre de cerimônias da noite. Foto: Sarah Daltri/SBIm.