Depois de perder o certificado de eliminação do sarampo em 2019, o Brasil voltou a ser considerado livre da doença. O status foi concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em 7 de novembro e anunciado pela Ministra da Saúde, Nísia Trindade, em cerimônia realizada na sede da entidade internacional em Brasília, no dia 12 de novembro.
O último registro de sarampo no Brasil aconteceu em junho de 2022, no Amapá. Este ano, foram verificados quatro casos importados — no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo —, mas medidas como a busca ativa e a vacinação de bloqueio ajudaram a evitar casos secundários.
Vice-presidente da SBIm e presidente da Câmara Técnica do Brasil de Verificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita, Renato Kfouri considera que a conquista é resultado da retomada do investimento na vacinação e na vigilância epidemiológica.
“Os últimos anos marcaram a reconstrução do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Por meio do microplanejamento, novas estratégias de comunicação e parcerias com sociedades científicas como a SBIm e a sociedade civil organizada, o Brasil conseguiu reverter o movimento de queda na vacinação e sair da lista de 20 países com mais crianças não vacinadas. Agora, podemos dizer, com orgulho, que eliminamos o sarampo novamente”, afirma Kfouri.
A presidente da SBIm, Mônica Levi, comemora a notícia, mas destaca que a manutenção do status depende de mobilização constante, uma vez que o vírus continua a circular em outras nações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo o planeta, foram confirmados mais de 320 mil episódios de sarampo em 2023.
“Perder o certificado, algo que o histórico recente mostra não ser impossível, seria um grande retrocesso. Estamos no caminho certo, mas precisamos estar atentos e redobrar os nossos esforços, até porque o sarampo não é a única doença com a qual devemos nos preocupar. Evoluímos bastante, mas boa parte das vacinas, a exemplo da que previne a pólio, permanece com a cobertura aquém do desejado”, pondera.
Sarampo no Brasil
Uma das principais causas de mortalidade infantil no passado, o sarampo foi gradativamente controlado no Brasil graças às políticas de vacinação conduzidas ao longo de décadas, com destaque para o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, de 1992. Em 2016, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) reconheceu o Brasil, pela primeira vez, como livre do sarampo.
Infelizmente, com a queda nas coberturas vacinais, o contato de pessoas não vacinadas com indivíduos que contraíram a doença no exterior levou à ocorrência, a partir de 2018, de surtos sustentados de grandes proporções — especialmente no Amazonas, Roraima e São Paulo. Com isso, em 2019, o Brasil perdeu o status de eliminação.
Entre 2018 e o início de junho de 2022, foram confirmados 39.799 casos e 40 mortes pela doença. Após dois anos sem registros e a melhoria nas coberturas vacinais e nos sistemas de vigilância epidemiológica e resposta a emergências, a OPAS voltou a conceder o certificado ao país.